Nazareth: Com 54 anos, banda mostra-se rejuvenescida em Surviving the law

 

Exatamente no primeiro minuto do dia 15 de abril de 2022, recebi um email da Apple informando que o álbum Surviving The Law (NAZARETH), que adquiri há algumas semanas, já se encontrava disponível. 

Realizada a audição, vamos à resenha.

“Try to stay away from the small talk”. É nesse clima de rebeldia e protesto, tão típico do rock ‘n’ roll, que se inicia a explosiva “Strange Days”, faixa de abertura do álbum “Surviving the Law”, o vigésimo quinto da veterana (e quase mitológica) banda escocesa NAZARETH. Um som moderno e energético, que tem feito a alegria dos antigos fãs e atraído a atenção de roqueiros mais jovens.

“You Gotta Pass it Around” é mais melódica, quase uma balada, e também muito agradável de ser ouvida. Ela traz à lembrança a veia romântica, tão característica do NAZARETH de outros tempos.

Uma nova alternância rítmica surge com a acelerada “Runaway”. O excelente vocal de Carl Sentance mostra-se em perfeita harmonia com os instrumentos e com os “backing vocals” dos demais integrantes da banda – marca característica, aliás, de todas as músicas que compõem este álbum.

Ah! O blues, tradicionalmente presente em todos os trabalhos do grupo, pode ser identificado inicialmente, mesclado a outros estilos, na cativante “Better Leave it Out”.

A rebeldia do rock ‘n’ roll retorna em “Mind Bomb”. Frases como “Generate another lie, Consume the disenfranchised” ilustram o clima pesado e exalam protesto, a exemplo da primeira faixa. Bombástica, sim, mas também harmoniosa.

O refrão de “Sweet Kiss” te conduz a um local ou a uma situação paradisíaca (ou melhor: a ambos). Embora a música conte a história de uma paixão que parece não ter dado certo (“Now I Know I can’t have, I can’t have it), ela não soa como um amor ferido, a exemplo de “Love Hurts”, e realmente faz você sentir-se bem, como diz a letra da música ao mencionar o beijo doce. Uma contagiante melodia. 

Por falar em paixão, “Falling in Love” trata do tema de uma forma menos romântica e mais carnal. Um amor cibernético, metálico, tecnológico. Outra faixa muito boa e com ares modernos.

“Waiting for the Word to End” é sobre alguém que pegou o caminho errado na vida e que agora prefere ficar sozinho em sua cama. A variação rítmica, entretanto, quebra o pessimismo da letra e joga para cima o astral da música, com ótimos trabalhos de voz e instrumentos.

Agora, “Let the Whiskey Flow” (Deixe o uísque fluir), pois estamos falando de uma banda escocesa! E uma banda que, segundo a música, está prestes a subir no palco e esbanjar energia e vibração, marcas características desse novo NAZARETH. Pesada e contagiante, talvez seja a próxima faixa a abrir os shows do grupo.

O ritmo segue acelerado em “Sinner”, que reflete uma vertente mais ‘dark’ do álbum, mostrando que “Surviving the Law” é tão eclético quanto os demais trabalhos da banda.

"Ciggies and Booze” fala de alguém cansado, que está prestes a desistir. Combinação perfeita de peso e melodia.

“Psycho Skies” talvez seja o destaque do álbum, com interessantes alternâncias rítmicas e um refrão contagiante. Os instrumentos aqui merecem um destaque especial, principalmente a guitarra de Jimmy Murrison.

O amor pode se quebrar, mas não se preocupe: está tudo bem. “Love Breaks” emite uma espécie de encorajamento, buscando mostrar que o fim de algo bom pode marcar o início de uma coisa ainda melhor. Mais uma vez os “backing vocals” dão um tempero especial. O destaque aqui é para o trabalho conjunto.

Uma balada chamada "I Had a Dream", inserida no primeiro álbum do grupo, lançado em 1971, permaneceu sendo a única música cantada pelo baixista Pete Agnew até 2018, quando ele gravou o blues “You Call Me”.

Pois bem, Pete está de volta no vocal, desta vez com um blues ainda mais marcante: “You Made Me”. A música soa como um agradecimento a alguém que fez tudo por você, que te tirou do abismo e te conduziu por um bom caminho. Soa, igualmente, como um agradecimento da banda ao blues, que tanto influenciou o rock ‘n’ roll e, de modo incontestável, toda a trajetória desta prolífica banda.

Chego ao final do álbum e à conclusão de que, mesmo após 54 anos de estrada, o NAZARETH conseguiu nos brindar com mais um excelente trabalho.

Ao se aposentar, Dan McCafferty pediu e abençoou a continuidade do NAZARETH. Ele deve estar feliz com este acréscimo ao vasto catálogo do grupo.

Surviving the law é vibrante, coeso e repleto de energia. As músicas agora são mais aceleradas, num estilo mais "heavy" do que o tradicional "hard rock" da banda (em grande parte devido à chegada de Carl Sentance), mas acreditem: a assinatura "NAZARETH" está presente em cada faixa, nas harmoniosas linhas de baixo, nos variados solos de guitarra, na simbiose de ritmos, nos cativantes "backing vocals" e, é claro, nas letras.

É um novo NAZARETH, mas com a mesma essência daquele bom e velho quarteto escocês.

Atualização em 18.4.2022: Surviving the Law foi lançado no Brasil hoje, no formato CD, graças a uma parceria entre a Shinigami Records e a gravadora italiana Frontiers Records.


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