Conto: Projeto Ísis
Quase todos os dias, Clarice esgueirava-se pelas ruas penumbrosas daquele fétido vilarejo, observando cautelosamente as apáticas criaturas do lugar. Eram breves incursões; o medo a impedia de ir longe. Os seres que via eram estranhos e tinham modos primitivos. Seria uma civilização alienígena em seus primeiros passos? Clarice não fazia ideia. Só sabia que se sentia desconfortável perante eles. O que mais a incomodava era o cheiro: as criaturas exalavam um odor desagradável, que podia ser sentido mesmo a longa distância. E aquele pedaço de fim de mundo era a coisa mais suja e asquerosa que vira em toda sua vida! Para uma obsessiva compulsiva por limpeza, um cenário como aquele parecia ser o pior dos pesadelos. Um pesadelo que se tornara tão real quanto seus medos e manias. Ísis, sua nave improvisada, de alguma maneira a levara até ali. A construção daquela engenhoca era hoje o maior orgulho dos trinta e cinco anos de vida de Clarice. Foram árduos anos de trabalho até que o primeiro