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Mostrando postagens de 2016

Conto: Futuro Maculado

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Imagem: Desenho "Os Jetsons" (Hanna-Barbera) Veículos de interessante aerodinâmica, semelhantes aos antigos automóveis, deslizavam pela troposfera em meio a arranha-céus curvilíneos. A arquitetura lembrava o arrojo das linhas de Niemayer, porém os materiais usados nas construções em nada se assemelhavam aos de sua época. Vistos de longe, os prédios pareciam constituídos de um material vítreo e moldável. Havia muitas cores nos arranha-céus, cujo brilho ofuscava os olhos daqueles que os fitavam do chão. Eram prédios esquisitos, retorcidos, mas acho que posso dizer que ainda assim eram belos. A Nova Avenida Paulista, como era chamada pelos habitantes da época, parecia uma autoestrada imaginária, sem delimitação de contornos ou faixas, por intermédio da qual motoristas impacientes realizavam manobras nada convencionais. Não havia sinalização nos cruzamentos. Os veículos, vindos de todas as direções, disputavam espaço com uma voracidade de dar medo. Para resumir: um trâ

Conto: O Chirriado Soturno da Guardiã

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“Os monstros existem. Os fantasmas também. Eles vivem dentro de nós e... Às vezes eles ganham.” (Stephen King)             Não tenho uma boa noite de sono há quase duas semanas. O pouco que durmo serve apenas para me trazer pesadelos com criaturas agressivas e de um apetite carnívoro insaciável. Seu cardápio é variado, mas elas parecem ter predileção por seres humanos. Em meus sonhos, vejo-as rasgando vorazmente as entranhas de várias pessoas. Elas as comem vivas! Um espetáculo aterrador, que tem me levado aos extremos do medo. O que mais me intriga é o fato de os pesadelos, ao se repetirem, afigurarem-se cada vez mais repletos de detalhes, como se estivessem aperfeiçoando-se, tentando simular a realidade e, de alguma forma, aproximando-se dela. Hoje, ao me levantar, por alguns instantes fiquei em dúvida se a realidade era de fato a tranquilidade do condomínio onde moro, ou se bastaria abrir a porta do quarto para mergulhar novamente naquela floresta úmida e penumbrosa, ce

Esperança, um conto datado

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            Última semana de novembro do ano de dois mil e doze. Início das férias em uma faculdade sediada na região central da capital paulista. – Finalmente, as férias da facu ! – foi o que gritou Larissa, assim que entrou com seu Uno Vivace no estacionamento do prédio no qual, há mais de uma década, sua família mantinha um apartamento de veraneio. Minutos depois, a agitada morena já exibia suas curvas perfeitas entre os coqueiros do calçadão. Trajava uma curtíssima bermuda de jeans e caminhava com pressa, ora ajeitando os cabelos longos e negros, ora consultando as novidades em seu celular. Facebook, twitter, emails ... Tudo ao mesmo tempo. Em seus ouvidos, a música vinda do celular gritava com a voz de Raul Seixas: O Diabo é o Pai do Rock! Larissa cantava junto com o artista, agitando freneticamente a cabeça. Na coxa esquerda, uma tatuagem com o logotipo da banda AC/DC , em chamas, denunciava sua preferência musical pelo rock pesado. Fora um ano difícil na faculdade, c