Esperança, um conto datado
Última semana de novembro do ano de
dois mil e doze. Início das férias em uma faculdade sediada na região central
da capital paulista.
–
Finalmente, as férias da facu! – foi
o que gritou Larissa, assim que entrou com seu Uno Vivace no estacionamento do
prédio no qual, há mais de uma década, sua família mantinha um apartamento de
veraneio.
Minutos
depois, a agitada morena já exibia suas curvas perfeitas entre os coqueiros do
calçadão. Trajava uma curtíssima
bermuda de jeans e caminhava com
pressa, ora ajeitando os cabelos longos e negros, ora consultando as novidades
em seu celular. Facebook, twitter, emails...
Tudo ao mesmo tempo. Em seus ouvidos, a música vinda do celular gritava com a
voz de Raul Seixas: O Diabo é o Pai do
Rock! Larissa cantava junto com o artista, agitando freneticamente a
cabeça. Na coxa esquerda, uma tatuagem com o logotipo da banda AC/DC, em chamas, denunciava sua
preferência musical pelo rock pesado.
Fora
um ano difícil na faculdade, com provas e trabalhos que lhe consumiram física e
psicologicamente. Além disso, havia o estágio num Tribunal na Avenida Paulista.
Sobrara pouco tempo durante o ano para se divertir. Larissa sentia-se exausta,
mas ainda estava em ritmo acelerado. Ela tentava diminuir o ritmo dos passos,
para mostrar com mais sensualidade seu corpo, mas não conseguia. Andava com
rapidez, como se estivesse atrasada para um compromisso importante. Ainda
assim, os quadris largos e a cintura fina movimentavam-se com graça.
A seu favor, o fato de um corpo
jovem ter o poder de se recuperar com rapidez. Contra a bela estudante de
Direito, uma ansiedade crônica que lhe castigava desde criança. Se não havia
preocupações, sua mente trabalhava para fabricá-las. E sua mente estava sempre
em ebulição!
Decidiu desligar a música. Tirou o
fone de ouvidos, agitando os cabelos e chamando ainda mais a atenção dos marmanjos que circulavam nas redondezas.
Respirou fundo e tentou relaxar um pouco sua mente. Porém, antes que pudesse
iniciar seu momento zen, o celular
tocou.
Era
Patrícia, sua melhor amiga. A voz dela estava acelerada; a garota parecia
tensa. Para Larissa, aquilo pareceu o prenúncio de que o dia não seria tão
tranquilo quanto desejava que fosse.
– La, está acontecendo uma coisa mega
estranha aqui na Paulista.
Até aí, nada de incomum. Patrícia
costumava exagerar em suas observações. Quando estava às vésperas de uma prova
importante, queixava-se de tonturas e dizia que sua pressão deveria estar abaixo de zero. A loura Patrícia era
medrosa e hipocondríaca. Tinha uma beleza frágil, que se amoldava com perfeição
à sua personalidade. Sua fisionomia angelical e a voz de menina eram outros
elementos que denunciavam sua doçura.
– Relaxa, Paty. Você já está de
férias da facul e daqui duas semanas
entrará em férias no estágio também. Deixe de ser melodramática.
– Melodramática? Daqui a pouco o que está acontecendo aqui vai aparecer
nos noticiários do mundo inteiro!
Pelo jeito, sua melhor amiga ainda
não tinha conseguido superar a agitação das provas finais. Olhando sob esse
aspecto, as duas estavam na mesma situação. No entanto, era impossível para
Larissa não rir ao imaginar o rosto de leite de Patrícia tornar-se rubro, como
sempre acontecia durante suas crises de
exagero.
– Tá bom, Paty. Que coisa mega estranha é essa? Por acaso estamos
sendo invadidos por marcianos canibais
ou algo parecido?
– Acho que algo parecido – respondeu
Patrícia, com a voz tensa.
– Opa, a coisa parece séria – murmurou
Larissa a si mesma, franzindo as estreitas sobrancelhas. Patrícia ouviu e
reclamou:
– É claro que é sério! Não acredita
em mim?
– Calma, amiga. Respire fundo e me
diga pausadamente o que está
acontecendo – ponderou a morena.
– Uma n-nave imensa apareceu e
p-pousou bem em c-cima do C-Conjunto N-Nacional – a voz de Patrícia era
picotada por algum tipo de interferência.
******
Desta
vez, a Paty se superou – refletiu Larissa. Sim; havia acontecido algo
incomum no céu paulistano naquele dia: uma movimentação estranha de nuvens
escuras, que irromperam com violência do firmamento até a atmosfera. De fato,
parecia que algo imenso poderia rasgá-las a qualquer momento, porém surgiram apenas
raios e relâmpagos. Assustadores, é verdade, mas nada além disso. Foi o que
Larissa viu no noticiário da TV. Apenas na imaginação prodigiosa da amiga de
mente influenciável é que uma nave brotara.
– É isso que dá assistir Independence Day cinco vezes – brincava
Larissa ao telefone, minutos depois, já em seu apartamento. A morena acabara de
sair do banho e tinha apenas uma toalha envolvendo seu corpo escultural.
– Na hora eu me lembrei do livro O Fim da Infância. Foi sinistro.
– Que raio de livro é esse, Paty?
– É ficção científica. Quer que eu
lhe conte a história?
– Agora não – bravejou Larissa,
mostrando-se impaciente. – Preciso me vestir e comer alguma coisa. Ligo pra
você depois. Beijo.
Para Patrícia, no entanto, a
conversa não terminara:
– Tinha uma nave sim. Tenho certeza!
Em formato de ovo, azulada, com partes transparentes que pareciam
compartimentos com janelas.
– Janelas? Uma nave espacial com
janelas?
– É, acho que sim.
Larissa irritou-se com a amiga e
disparou:
– Então, amiga, por que ninguém mais
viu essa coisa esquisita?
– Porque o cérebro das outras
pessoas não conseguiu processar direito o que estava acontecendo. O cérebro
humano é assim, sabia? Nossos olhos só nos mostram o que o cérebro reconhece, o
que está acostumado a ver.
– Paty, o seu cérebro é igual ao das outras pessoas. Se o delas não
processa algo, o seu também não processa. Você tem imaginação demais. Crie uma válvula de escape para suas fantasias.
– Não preciso de nenhuma válvula de escape! O fato de meu cérebro
ter processado o que aconteceu é uma prova de que tenho a mente aberta – o
protesto da loirinha era doce, como de costume, mas estava se tornando
enérgico.
Larissa pensou em brincar com a
amiga, dizendo que sua mente aberta estava deixando alguns parafusos caírem,
mas preferiu guardar a piada. Sabia o quanto Patrícia era sensível e, embora
estivesse um tanto irritada com aquela história, não queria aborrecê-la.
– Eu não duvido de você, Paty. Só acho que é muito fantasiosa.
Concentre-se no seu trabalho agora e tente esquecer isso por enquanto. Depois
eu te ligo e a gente conversa mais,
tá? Enquanto isso, acompanhe os noticiários e veja se aparecem novidades.
A resposta veio quase inaudível. A
voz de Patrícia estava carregada de desânimo e decepção:
– Tá certo, La. Vou fazer isso.
******
– Maremoto; maremoto! – o grito
viera do apartamento ao lado, acordando Larissa, de forma abrupta, de sua
soneca vespertina.
Não
vou conseguir descansar hoje, pensou. Acho
que não vou conseguir relaxar nunca! – desabafou em seguida.
Contrariada e balbuciando uma
combinação de palavrões, Larissa levantou-se do sofá e caminhou com ira até a
sacada. Seu apartamento ficava na primeira quadra após a praia, de frente para
o mar. Se houvesse algum aumento na altura das ondas, ela não teria a menor
dificuldade para notar.
Bastou
abrir a porta da sacada para perceber que algo estava errado. O barulho que
vinha do mar era intenso, como se as águas marinhas se movimentassem nos
arredores do prédio. Nas sacadas e prédios vizinhos, pessoas se aglomeravam.
Ao
mirar seus olhos na direção do mar, Larissa viu ondas altas, que se formavam no
horizonte e aproximavam-se do calçadão. Graças à pancada de chuva que caíra minutos antes, felizmente parecia não
haver mais ninguém na praia. No entanto, a movimentação despertara a
curiosidade dos motoristas que transitavam com seus carros na via conhecida
como avenida da praia, provocando
engarrafamentos e discussões.
Larissa
jamais vira o mar tão revolto.
A
estudante de Direito tirou do bolso o celular e filmou o horizonte, mirando no
local em que as águas pareciam mais agitadas. Do décimo andar onde estava, pôde
notar que as ondas não vinham de todas as direções do oceano, mas se formavam
num determinado lugar, como se algo estivesse acontecendo sob as águas
exatamente naquele ponto. Larissa teve a nítida impressão de que alguma coisa
irromperia do mar a qualquer momento. Era inevitável lembrar-se do relato de
Patrícia.
Dois
ou três minutos depois, a agitação diminuiu, cessando por completo em menos de
cinco minutos. Nada surgiu do fundo do mar rumo à superfície. Não houve barulho
de explosão, não apareceram monstros marinhos, tampouco emergiram naves. Nada,
absolutamente nada. Fora a coisa mais estranha que Larissa vira em sua vida.
Ela
voltou para a sala instantes depois e conferiu a filmagem que fizera.
Intrigada, murmurou:
–
Tem alguma coisa estranha acontecendo. E deve ter relação com o que a Paty viu.
Vou enviar esse vídeo para ela por email.
******
À noite, diante de seu computador,
Patrícia via com seus pequenos olhos azuis o que a amiga – e, ao que parecia,
todas as demais pessoas – não fora capaz de visualizar. Do belo azul das águas,
emergira uma nave de interessante aerodinâmica. Era repleta de curvas e tinha
um formato indefinido. A primeira ideia que veio à mente de Patrícia fora a de
uma ameba gigante, ou de uma massa mal moldada. Na parte central, havia uma
pequena elevação em formato cilíndrico. Não era um objeto feio, apenas estranho
para nossos padrões de beleza. Possuía tonalidades suaves, que se alternavam
enquanto ele se movimentava. As cores eram agradáveis de serem vistas,
sobretudo quando os tímidos raios solares, que afastavam os resquícios da chuva
que caíra, tocavam as extremidades da nave. O resultado desse encontro era um
brilho intenso. Era óbvio que aquele engenho fora construído com um material
desconhecido na Terra.
A nave não era grande; parecia ter
menos da metade do tamanho daquela que Patrícia vira na Avenida Paulista. A que
visualizara no céu paulistano era mais imponente, mas a filmada por Larissa lhe
parecera mais simpática. Ao menos, a
sensação que lhe proporcionara era bem melhor. Quando vira o imenso ovo azul na
Paulista, Patrícia tivera uma sensação bastante desagradável. Sentira uma onda
de frio intenso; chegara até a pensar que estava febril. Mas não havia febre;
bastou desviar seus olhos daquela “coisa” para recuperar o bem-estar.
Tomando às mãos o telefone, Patrícia
discou o número do celular da amiga. Estava fascinada com o vídeo e planejava
visualizar o local de perto:
– Amiga, hoje é sexta-feira e estou
sem nada para fazer esse final de semana. Posso ir aí amanhã?
– Eu quero que você venha hoje, Paty!
– Ah, hoje não dá. Você sabe que eu
tenho medo de dirigir à noite.
Patrícia
e Larissa eram inseparáveis desde crianças, quando cursaram na mesma sala o
terceiro ano do ensino fundamental. Era uma amizade de mais de dez anos. A
confiança e o carinho que existia entre elas era muito grande e aumentara
bastante a partir da adolescência. As primeiras paqueras, os primeiros
conflitos, as dúvidas, as incertezas, os amores... Todas as experiências mais
importantes eram compartilhadas entre elas. Eram como irmãs. Em tudo, até nas
brigas passageiras. Que não eram raras...
– Você já é adulta, Patrícia. Não
pode mais ter esses medos infantis. Pegue seu carro e venha hoje! – Larissa
nascera apenas três meses antes que a amiga, mas sempre atuava como uma irmã
mais velha. Bem mais velha.
Patrícia costumava ceder às
recomendações da amiga e não precisou de mais do que um instante para rever
seus planos:
– Vou tomar um banho rápido, jantar
e separar umas roupas. Antes das onze estarei aí, amiga!
– Assim é que se fala, Paty! – bradou Larissa, com um sorriso
de satisfação nos lábios carnudos e bem delineados.
******
Já era madrugada quando Larissa e
Patrícia decidiram ir até o calçadão. Andaram um pouco, compartilharam sua
estranheza com os fatos recentes e por fim sentaram-se num banco que lhes
proporcionava um belo panorama da região. A noite estava agradável. No céu, a
lua cheia era um espetáculo à parte. Parecia brilhar como nunca, iluminando a
praia como se fosse um sol tênue.
– Não é uma noite comum – profetizou
Patrícia.
– Não, não é uma noite comum. E
vocês precisarão se acostumar com fatos incomuns. A partir de hoje, nada será
como antes.
As garotas estremeceram. Estavam
certas de estarem sozinhas no calçadão. A voz que ouviram viera do banco ao
lado, no qual, a um mero instante, não havia ninguém. Era uma voz doce, suave,
sendo impossível distinguir se masculina ou feminina.
Ao olharem na direção daquela voz,
depararam-se com uma figura de aparência singular.
– Não se assustem. Estou aqui para
ajudar – ponderou a voz, enquanto a criatura se levantava e caminhava para o
banco onde estavam as garotas.
Conforme se aproximava, aquela
figura se revelava para os olhos das estudantes de Direito. Era um homem – ao
menos, aparentava ser – com cerca de um metro e oitenta e cinco de altura, de
porte atlético e andar sereno. O corpo, muito musculoso, contrastava com os
traços faciais delicados, quase femininos. Uma figura andrógina, que lhes
inspirou grande simpatia. Usava vestes leves, quase transparentes, que se
ajustavam ao corpo a cada movimento. A proximidade do contato físico fez com
que a pele da criatura resplandecesse, iluminando-a de uma forma celestial.
Patrícia
foi a primeira a se manifestar:
– Você é um anjo, ou alguma coisa
assim?
– Sou alguma coisa assim – disse a
criatura, revelando dentes muito alvos.
Larissa estava em transe. Achara
aquele homem lindíssimo. Sempre
sonhara com um homem de porte físico atlético, mas que tivesse a doçura de uma
mulher. A imagem que tinha à sua frente, no entanto, superava suas
expectativas. Era um ser perfeito, nas formas, nos modos educados, no sorriso
encantador... e tinha um par de grandes olhos azuis que a hipnotizavam. Os
cabelos castanhos, muito curtos, deixavam mais evidentes as feições suaves
daquele rosto.
– Sente-se aqui conosco. E nos
explique melhor o que significa esse seu alguma
coisa assim – disse a morena, exibindo seu belo sorriso.
O visitante sentou-se ao lado delas.
Larissa e Patrícia sentiram a paz que emanava dele, enquanto ele, de alguma
forma, percebia as reações fisiológicas que provocava nas duas humanas.
Notando-as excitadas com sua presença, a criatura ruborizou. Não parecia
habituada com desejos sexuais.
******
Larissa dormiu num quarto, Patrícia
no outro. O sofá da sala abrigou o visitante, que passou a madrugada inteira
assistindo desenhos animados. Ele ficara fascinado com o que vira; tinha o
coração tão puro quanto o de uma criança humana.
Pela manhã, Larissa foi espiá-lo.
Trajando minúsculas roupas íntimas, que exibiam suas curvas voluptuosas, ela
adentrou a sala. Decidira testá-lo:
– Você passou a noite inteira
acordado? – com a voz doce e provocante, ela se aproximou e sentou-se ao seu
lado no sofá.
– Não precisamos dormir como vocês –
respondeu ele, sentindo-se acuado.
Larissa o olhava com deslumbramento.
Não era o que se costuma chamar de uma
garota fácil, mas, sentindo-se diante do que considerava um verdadeiro deus
grego, não conseguia conter seus instintos sexuais. Excitada, a universitária
tocou com suavidade o ombro do visitante e beijou-o no rosto de forma delicada,
fazendo-o estremecer. Depois, sussurrou em seu ouvido:
– Ainda não nos disse seu nome.
Naquele instante, Patrícia surgiu
diante deles. Larissa assustou-se e se afastou. Ao contrário da amiga morena, a
loura estava com um pijama discreto. Tímida, a garota ficou encabulada diante
da cena que visualizou.
– Meu nome é Ariel – disse ele em
voz alta, tentando desfazer o momento embaraçoso.
– Conte-nos mais sobre você e a
razão de estar aqui – pediu Patrícia. Com os olhos, ela perguntou à amiga se
podia se aproximar. A ligação entre as duas era tão forte que lhes permitia
compreenderem-se sem precisarem usar as palavras. Larissa estava visivelmente
desconfortável, envergonhada por sua própria ousadia, mas emitiu um sorriso
tênue, o que indicava que Patrícia poderia sentar-se ao lado deles. A loura
aproximou-se com cautela e sentou-se no canto do sofá.
Ariel falou com um tom professoral:
– Vocês devem ter ouvido falar muito
num possível apocalipse no final deste ano.
Larissa arregalou os olhos,
interrompendo-o:
– Então esses comentários sobre um
apocalipse em dezembro de dois mil e doze são procedentes? As profecias maias
estão corretas?
– O apocalipse é uma realidade
possível. Infelizmente, nossos estudos indicam que é bastante provável. Quanto
aos maias, eles não profetizaram, apenas foram informados sobre uma grande
mudança que acontecerá na Terra. A mudança que está por vir é certa; o
apocalipse, não. Ela marcará o final de um ciclo na trajetória dos humanos
desse planeta.
– Você veio naquela nave que saiu
das águas?
– Sim, Patrícia. Na verdade, estamos
espalhados por várias regiões litorâneas do globo, tentando protegê-los. Meu
povo tem a missão de cuidar de vocês desde o início dos tempos.
– São nossos anjos da guarda?
– Não exatamente, Larissa. Somos
seres de uma espécie semelhante à do povo da Terra, porém muito mais antigos.
Tivemos mais tempo para evoluir e
recebemos o encargo de cuidar de vocês. Vocês chamam isso de anjos, mas nos consideramos apenas seus tutores.
– Aquela nave que vi sobre a Avenida
Paulista pode ser um problema?
– Ela é um grande problema, Patrícia.
E, como ela, existem outras pairando sobre as mais importantes capitais do
mundo. Em breve, todos poderão visualizá-las, assim como você, que tem a
sensibilidade mais aguçada que as outras pessoas.
– Que seres estão nestas naves? –
perguntou Larissa, percebendo a gravidade do que estava acontecendo.
– Criaturas constituídas de energias
voláteis. Não possuem uma forma física definida.
– E o que elas querem de nós? –
insistiu a morena.
Pela primeira vez, a criatura
precisou refletir por alguns instantes antes de responder:
– Na faculdade, vocês passam por
avaliações periódicas que testam seus conhecimentos, não é verdade? Então,
estes seres estão aqui com a missão de testá-los, de avaliar seu estágio
evolutivo. Saber se “passaram de ano”. São apenas instrumentos guiados por uma
força superior, só que não brincam em serviço.
– Eles podem nos matar? – gritou
Patrícia, assustada.
– Diretamente, não. Mas podem
induzi-los a se matarem, se concluírem que vocês não são dignos de continuar
habitando a Terra.
– E você? Acredita que os humanos
não merecem este planeta?
–
Não, Patrícia. Penso de maneira diferente, assim como os outros tutores. Enxergamos em seu povo uma
grande capacidade para evoluir em espírito, mas vocês estão caminhando a passos
lentos. Há um prazo para tudo no universo. E o povo da Terra chegou a um
momento crítico em sua existência.
******
Os conflitos começaram nas grandes
capitais. Depois, se alastraram para as demais regiões, atingindo todos os
rincões do planeta. No mundo inteiro, a partir do dia seguinte à aparição
detectada pelos olhos de Patrícia na Avenida Paulista, o número de homicídios
aumentou de forma assustadora. Era como se o ódio estivesse no ar.
Doutrinas
discriminatórias ganharam novos e fervorosos adeptos. Conflitos religiosos
intensificaram-se, transformando-se em guerras nos dias que se seguiram. A
notícia mais assustadora chegara do Oriente Médio. Uma guerra fora deflagrada
entre Irã e Israel, ganhando rápida adesão de outros países da região. Um
conflito sangrento, que culminava em destruição e mortes sem precedentes em
toda aquela região do globo terrestre.
Nas localidades mais populosas, o
trânsito caótico causava constantes desentendimentos, que culminavam muitas
vezes em agressões físicas, disparos de armas de fogo e inúmeras mortes. O caos
se instalara em poucos dias.
Os habitantes da Terra, tomados por
um ódio irracional, não conseguiam entender o que estava acontecendo. Reduzidos
a seus instintos mais destrutivos, os seres humanos não raciocinavam antes de agir,
tampouco refletiam sobre as ações praticadas. As pessoas foram transformadas em
máquinas de matar. Não havia compaixão.
Como acontecera em São Paulo, havia
naves azuis pairando sobre a atmosfera das mais importantes capitais do globo.
A mera presença delas parecia afetar o sistema nervoso central dos seres
humanos, despertando-lhes uma fúria impressionante.
Nas regiões litorâneas, as naves que
emergiram dos mares, agora já detectadas pelos cérebros dos que residiam nas
redondezas, emitiam uma espécie de energia, que produzia um efeito
tranquilizante na atmosfera. Era um paliativo, cuja eficácia variava de pessoa
para pessoa.
Larissa e Patrícia foram levadas por
Ariel para o interior de sua nave, que pousara sobre a areia. De forma
incompreensível para nossos sentidos, ela era bem maior em seu interior do que
aparentava ser no aspecto externo. A grande
ameba, como a apelidara Patrícia, era povoada por seres de aspecto
semelhante ao de Ariel, todos de modos serenos e voz adocicada. Não havia na
nave painéis, tampouco botões, muito menos as antiquadas alavancas. Apenas
luzes e sons, que se misturavam e mudavam de tonalidade. Patrícia concluiu que
a nave deveria possuir uma inteligência artificial, ou que talvez fosse movida
por comandos mentais.
Larissa
notou que não havia entre os visitantes nenhuma criatura com formas femininas e
questionou-se se haveria mulheres no planeta deles. Provavelmente não, pensava a morena, pois ficara claro que Ariel
não tinha qualquer experiência relacionada ao sexo. Uma incógnita que lhe
despertou a curiosidade.
Combater as outras naves,
dissera-lhes Ariel, estava fora de cogitação, pois nossos tutores jamais faziam uso da força. Além disso, os visitantes
hostis tinham uma missão a cumprir, estabelecida por um poder superior que os tutores em hipótese alguma poderiam
afrontar.
– Como vamos acabar com essa
carnificina então? – questionou Larissa, num misto de desespero e impaciência.
Essa era a grande questão.
******
– A presença deles na atmosfera do
planeta agride o sistema nervoso central e estimula a ira nos seres humanos. A
energia que nossas naves liberam ajuda as pessoas a encontrarem em si o
equilíbrio e o bem estar. Eu sei que isso parece pouco, mas são forças que
equivalem em potência. A única vantagem deles é terem surgido em regiões mais
populosas, mas a energia que liberamos em breve atuará também em todas as áreas
do globo terrestre – explicava-lhes Ariel. – Quando isso acontecer, creio que a
ira será abrandada.
– Vocês não têm como saber para que
lado as pessoas se inclinarão? – questionou Larissa.
– A grande maioria tende a seguir os
maus impulsos, mas existe em vocês o potencial para superar isso. É preciso
criar situações que despertem o amor nos seres humanos. Provas de amor são antídotos eficazes contra a energia daqueles
seres. O amor é a força mais poderosa do universo. É o que poderá salvá-los da
destruição.
– E vocês não podem simplesmente
libertar a mente das pessoas das más influências?
– Não, Larissa, não podemos
interferir no livre-arbítrio das outras criaturas. Só podemos emitir energias
de igual potência às dos agressores. E isso já foi feito. Agora, o futuro de
vocês depende do esforço pessoal de cada um. Dezembro de dois mil e doze foi estabelecido
pelo Poder Supremo como o mês do julgamento dos seres humanos que habitam a
Terra. As criaturas de energias voláteis, no fim das contas, estão apenas
cumprindo seu papel de acusadores, tornando mais intensas suas maiores falhas
de caráter. Nós, seus tutores, atuamos como advogados de defesa, procurando
mostrar que vocês podem encontrar um ponto de equilíbrio. São vocês, no
entanto, que darão seu próprio veredicto. Estão sendo expostos às suas maiores
vulnerabilidades. Precisam mostrar que são capazes de superá-las.
– Se fracassarmos, vocês vão nos
abandonar à nossa própria sorte? – quis saber Patrícia, com lágrimas nos olhos.
– Ficaremos aqui para acompanhar os
acontecimentos. Mesmo que o mal triunfe, não será o fim. No entanto, o recomeço
será difícil.
– E se o lado bom das pessoas
vencer?
– Então a Terra irá se transformar,
gradativamente, num lugar semelhante àquilo que vocês chamam de paraíso.
Ouvindo-o e admirando seu corpo,
Larissa se perguntava se no paraíso todos teriam uma aparência tão atraente.
Encantada com a aura azul que contornava Ariel, Patrícia questionava-se se no
paraíso todas as criaturas seriam tão doces e bondosas quanto ele. Cada uma à
sua maneira, ambas estavam se apaixonando por aquele ser andrógino.
– Vou acompanhá-las de volta ao
apartamento. Patrícia, não volte por enquanto para São Paulo. Espere alguns
dias para ver o rumo dos acontecimentos.
Patrícia, como de costume, era a
imagem da fragilidade. Sua estatura era baixa, o corpo delgado e a pele muito
clara. Ao ouvir o conselho de Ariel, ela corou. Ficara feliz ao notar que ele
se importava com seu bem estar.
A
seu lado, Larissa esforçava-se para sufocar o ciúme.
******
Alguns
dias se passaram. Como Ariel previra, a intensidade do mal diminuiu a partir de
um determinado momento, com o arrependimento de algumas pessoas. Dois ou três
dias depois, entretanto, fortaleceu-se novamente. Larissa perdeu um tio,
alvejado por uma bala durante uma discussão de trânsito. Seu único irmão também
estava ferido, mas não corria risco de vida. A dor maior era de Patrícia, que
recebera na manhã anterior a notícia de que a mãe fora vítima da insanidade de
alguns adolescentes, que a atacaram e a espancaram sem qualquer motivo. Ela não
resistira aos ferimentos.
–
Não acredito que o mundo como conhecemos vai acabar! – dizia Larissa, enquanto
andava de um lado para outro na sala, exibindo em seu semblante o medo e a
impaciência.
–
Temos que acreditar no melhor, amiga. Vamos fazer pensamento positivo!
Ao
ouvir a ponderação inocente da amiga, Larissa explodiu:
–
Pensamento positivo? Pensamento positivo, Patrícia? Não vê que o mundo está em
guerra? Não leu na internet que as
pessoas estão se matando? Que enlouqueceram? Não notou que quase um quarto das
pessoas ao redor do mundo foram assassinadas ou estão feridas? Não percebeu que
não há mais lugares nos hospitais para abrigar essas pessoas? E você acha que
só o pensamento positivo pode acabar com esse inferno?
Habitualmente
tranquila, Patrícia enfureceu-se:
–
Eu perdi minha mãe, sua idiota!
Descontrolada,
Larissa partiu para cima da amiga, chacoalhando seus ombros:
–
Você está se fazendo de vítima para conquistar o Ariel! Pensa que me engana,
vadia?
–
Larissa, eu perdi minha mãe! Não quero perder a amizade da minha única irmã! –
gritou Patrícia, aos prantos, fazendo com que Larissa caísse em si, envergonhando-se de sua atitude.
Naquele
momento, a figura de Ariel surgiu no apartamento. Não tocou a campainha,
tampouco bateu na porta. Simplesmente materializou-se diante delas, como se
isso fosse a coisa mais natural do mundo. Usava vestes de cor prateada, longas
e largas. Seu corpo agora emitia luzes mais intensas, numa mescla de cores que
se refletiam nas paredes da sala de forma ofuscante. As meninas assustaram-se
num primeiro momento, afastando-se dois passos, mas tiveram uma sensação muito
acolhedora em seguida. Unidas pelo carinho que nutriam mutuamente há muitos
anos, elas se abraçaram. Abraçadas e surpresas, viram duas longas asas brotarem
nas costas de Ariel e abrirem-se de forma magnífica. Eram alvas e muito longas.
Quando totalmente abertas, mal couberam na sala do apartamento de Larissa.
A
imagem de Ariel, agora transfigurado em algo verdadeiramente angelical, era de
uma beleza inédita para os olhos das duas estudantes de Direito. Foi preciso
que alguns minutos se passassem para que elas recuperassem o fôlego. Antes
disso, ele lhes falou com sua serenidade habitual:
–
Notaram que só o amor pode controlar o ódio?
Elas
o ouviram em silêncio. Afinal, aquela pergunta era, ao mesmo tempo, sua resposta.
Ao
vê-las assustadas, Ariel encolheu suas asas e sentou-se ao lado delas no sofá.
A TV estava ligada e não trazia boas notícias: duas armas nucleares haviam sido
disparadas no conflito que estava sendo travado entre as Coreias. Além disso,
uma guerra envolvendo vários países da Europa estava para eclodir a qualquer
momento. Até mesmo o Brasil, normalmente um país pacífico, poderia se
fragmentar em breve. A desconfiança entre os habitantes das cinco regiões do
país e entre os integrantes das diversas etnias que constituem nossa nação
havia aumentado desde a aparição das naves hostis. Naquele momento, o
noticiário informava que os estados da região sul pretendiam declarar sua
independência nas próximas horas, fundando a República dos Pampas. A presidenta adiantara que não aceitaria esta
cisão. Disse que, se fosse preciso, usaria as Forças Armadas para manter a
integridade do território. A tensão era grande.
Com
dificuldades para conter a atração física que sentia por Ariel, Larissa
encostou a cabeça sobre seu tórax. Queria sentir o calor que emanava daquele
corpo. Porém, para sua surpresa, sua cabeça pareceu afundar no peito da
criatura. Larissa deu um pulo no sofá.
–
Você... não é feito de carne?
–
Sou feito de uma matéria diferente.
–
Como vocês fazem amor no seu planeta? – questionou ela, movida por seus
instintos.
–
Não é preciso contato físico para demonstrar amor – disse ele, com
naturalidade.
– E o prazer? – quis saber a
incrédula Larissa.
–
Você não pode pensar em sexo quando o mundo está acabando! – protestou
Patrícia, inconformada com a insistência da amiga.
– Nós experimentamos o prazer
compartilhando nossos pensamentos – explicou Ariel, com sua pureza habitual.
Tudo aquilo era muito mais do que a
mente prática de Larissa conseguia processar naquele momento. Na sua concepção,
um mundo sem prazer físico poderia até ter uma aparência bonita, com ares de
paraíso, mas seria por demais monótono. Compartilhar pensamentos em nada
contribuiria, em sua ótica, para espantar o tédio de viver num lugar assim. Que tipos de criaturas experimentariam o
prazer daquela maneira?
– Preciso tomar um ar – murmurou,
cabisbaixa. E deixou o anjo e a loura
sozinhos em seu apartamento.
Patrícia contemplou a imagem de
Ariel. Também estava fascinada por ele. Não era apenas o aspecto físico que a
atraía, mas algo invisível que emanava dele e lhe transmitia uma sensação
indescritível. O corpo aparentava ser muito forte, mas, como notara Larissa,
não tinha solidez alguma. Patrícia experimentou, com suas mãos, pressionar com
força as dele, e constatou que a matéria de que era formado podia ser
penetrada, expandindo-se e alterando levemente sua forma.
– Não dói quando eu faço isso?
– Nem um pouco.
Para surpresa de Ariel, o contato
físico estabelecera uma conexão especial entre eles. Patrícia criou coragem e
arriscou:
– Me ensina?
– O que você quer aprender,
Patrícia?
- A fazer amor como vocês.
******
Pouco mais de uma hora depois,
Larissa retornou. Quando abriu a porta do apartamento, deparou-se com uma cena
insólita. Sentados no sofá, sem se tocarem, notou os corpos de Patrícia e Ariel
alternarem cores e emitirem fachos de luz, além de perfumes doces e inéditos
para seus sentidos. Uma música enigmática se espalhava pelo ambiente[1].
Larissa era pianista, mas desconhecia por completo as notas musicais que
ecoavam em seu apartamento. Todavia, podia perceber que a melodia e a harmonia
eram de uma complexidade impressionante.
Vendo sua melhor amiga praticando
com o objeto de seu desejo o relacionamento mais íntimo que os tutores eram capazes de compartilhar,
Larissa sentiu-se derrotada. Em silêncio, abandonou o ambiente, deixando-os
novamente a sós.
- Acho que é isso que se costuma
chamar de almas gêmeas – sussurrou
para si mesma, enquanto passava pela guarita do prédio.
Com passos lentos, Larissa
atravessou a avenida que antecedia o calçadão. Usava a mesma bermuda de jeans do dia em que chegara à baixada
santista, só que desta vez a morena caminhava com elegância. Sua elegância, no
entanto, era triste. Mantendo os olhos fixos no mar, que tanto a encantava,
Larissa caminhou até a praia, parando à beira-mar. Sentou-se na areia e
observou a beleza das águas, com suas faixas verdes e azuis, que brilhavam ao
contato dos raios solares. A crista das ondas, de um branco muito alvo,
completava aquele cenário paradisíaco.
Não lhe parecia sensato, mas pensar
em Ariel a deixava ainda mais triste do que vivenciar a agonia da vida humana
na Terra. Apaixonara-se de verdade; não tinha culpa se desejava expressar seus
sentimentos por intermédio do sexo. Era essa a forma que seu corpo reagia à
paixão.
Uma
sensação angustiante tomou conta de Larissa. Ela fechou os olhos e estendeu os
braços, buscando forças no infinito que a circundava. Recordou-se da imagem que
vira há pouco em seu apartamento: havia algo que ligava a criatura angelical à
sua amiga Patrícia, algo que Larissa não se sentia capaz de compreender.
Pensou na amiga. Lembrou-se da
infância e de como protegia Patrícia das outras crianças. Larissa sempre fora
mais valente, brigona e decidida.
Recordou-se do dia em que juraram amizade eterna. Diante da imensidão do mar,
quase podia visualizar novamente a menina loura dizendo que a amava. Larissa
ficara calada naquele momento, pois considerara um exagero da amiga. Agora, no
entanto, a recordação a fazia chorar.
A morena finalmente entendeu que
também amava Patrícia. Era uma forma de amor fraternal, sem necessidade de
qualquer contato físico. Ela jamais imaginara a possibilidade de sentir prazer
com o corpo da amiga e, no entanto, não podia viver sem ela.
Sim, refletiu, o amor pode se manifestar das mais variadas formas. A variedade
está presente em tudo no mundo. Então... por que os tutores não teriam o
direito de expressarem o amor daquele jeito estranho? E por que Ariel não
poderia preferir Patrícia? Não teria ele o direito de escolha?
No
momento em que as águas marinhas alcançaram seus pés, concentrou seus
pensamentos no inferno que estava assolando o planeta. Tudo aquilo era fruto da
incompreensão para com aqueles que não compartilhavam das mesmas convicções e
sentimentos. A intolerância e o desrespeito à diversidade estavam destruindo
nossa civilização. As criaturas voláteis apenas tornaram óbvia esta realidade.
Em
meio ao turbilhão de pensamentos, outra música de Raul Seixas veio-lhe à mente,
como uma espécie de intuição:
“Mas cada um nasceu com a sua voz
Pra dizer, pra falar
De forma diferente
O que todo mundo sente”
Somos todos iguais – desabafou em
voz alta, embora não houvesse ninguém por perto para ouvi-la. Somos todos iguais e estamos nos matando!
Revoltada,
Larissa levantou-se e caminhou pela praia. Depois de refletir por algum tempo,
concluiu que não tentaria interferir no relacionamento entre Patrícia e Ariel.
Ela era a irmã mais velha; tinha o dever de zelar pela felicidade da caçula,
mesmo que isso lhe custasse muitas lágrimas.
Espero que eles tenham tempo para se
amar, que não morram no meio desta loucura.
Pensar
na felicidade de Patrícia aliviava sua tristeza, mas ainda era muito pouco
diante de tudo o que estava acontecendo. Ela precisava fazer algo para melhorar
a situação de todos no planeta. Alertar as pessoas de alguma forma, falar da
importância de aprenderem a conviver. Mas... como faria isso? Alguém a ouviria,
por acaso?
Não posso fazer nada, concluiu. Sou apenas mais uma idiota num mundo de
idiotas.
Felizmente,
estava enganada.
Ariel
não estava autorizado a revelar, mas Larissa era uma das pessoas escolhidas
para serem monitoradas pelo Poder Supremo naquele momento crucial. Tinha sido
exposta a uma prova de amor e sua
conduta fora considerada satisfatória. Ela não se portara como um anjo, mas
fizera o que se esperava de um ser humano: mostrara-se capaz de demonstrar amor
e de se preocupar com o bem estar de seus semelhantes.
Era
o suficiente para um recomeço.
Se
a semente germinar, se outras pessoas comportarem-se de forma semelhante, então
há esperança para os habitantes da Terra.
Uma
tênue esperança.
(*) – Conto
publicado originariamente na edição nº 104 do Somnium, publicação oficial do
Clube de Leitores de Ficção Científica: http://www.clfc.com.br/somnium/Somnium104.pdf
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