Bonamondo, o planeta dos sonhos - Capítulo 1

 


Havia dois sóis no planeta Bonamondo. O azul, enorme e pungente, dominava o céu. O avermelhado, de brilho tênue, aparecia por poucas horas nos finais de tarde e tornava mais belas as luzes do arrebol. Tessat o adorava, chamava-o de pequenino simpático. Admirava também o azulão e se esbaldava com o calor que ele proporcionava.

À noite, três luas apareciam, porém apenas uma delas tornava-se inteiramente visível em algumas ocasiões. As outras duas sumiam por dias, às vezes por semanas e, quando regressavam, jamais se mostravam por inteiro. A lua de sempre, como a chamava Tessat, era branca e brilhante. Para o garoto, ela era feita de gelo. A irmã dizia-lhe que isso é improvável, pois o calor do azulão o derreteria, fazendo a lua minguar. Ele, no entanto, preferia continuar imaginando uma lua feita de enormes e vistosos blocos de gelo. Assim é muito mais legal, dizia a si mesmo. E, ao imaginá-la desta forma, sorria de contentamento, fazendo surgir em sua face um delicado efeito resplandecente.

Alenni também gostava daquela lua, embora não a visse com tanto romantismo. Aliás, a menina se encantava mais com as luas do que com os sóis, até mesmo com as duas fujonas (mais um apelido dado pelo irmão). O motivo era simples: a chegada delas, no início da noite, coincidia com a queda da temperatura. Tudo indicava que eram elas que traziam aquele clima agradável. As noites eram frescas, quase frias, um contraste e tanto com o calor diurno, ainda mais intenso nos dias sem chuva, quando o ar ficava muito abafado. Por sorte, costumava chover bastante em Bonamondo, o que era sempre um espetáculo muito bonito de se ver. A sagrada chuva (assim a chamava a sábia Liarah), que amainava o calor, também modificava a coloração habitual da atmosfera. Eventualmente, trazia consigo as divindades, representadas pelas faixas coloridas que se desenhavam em forma de arco no céu. Alenni e Tessat não se cansavam de admirá-las. Às vezes, faziam pedidos aos deuses-mirins lilás e violeta. Mas não havia muito o que se pedir; então, assim como os demais habitantes de Bonamondo, os irmãos sempre agradeciam pelo costumeiro bem-estar de seu povo. Apenas a chuva, em si, já era uma benção quase diária, trazendo benefícios para a vida agropastoril do lugar. Segundo os agricultores, ela seria a grande responsável por fazer tudo florescer.

Tudo bem, pensava Alenni, o pequenino simpático não era responsável pelo clima quente que às vezes a incomodava um pouco (culpa do azulão, com certeza!), mas o fato é que, para a menina, tudo parecia ficar mais agradável à noite, não apenas o clima. Até mesmo o aroma trazido pela frescura dos ventos, que colhiam o perfume das flores e das plantas e o levava aos habitantes de Bonamondo, parecia causar mais deleite a seus órgãos olfativos após o anoitecer. Durante o dia, os ventos eram mornos e o aroma silvestre trazido por eles não possuía o mesmo frescor.

O tal azulão, no entanto, era de uma beleza portentosa, nisso Tessat e Alenni concordavam. Lindo e majestoso, uma estrela muito maior e bem mais poderosa do que o Sol que aquece a Terra.

Embora seus habitantes ainda não soubessem, Bonamondo era o único planeta que existia naquele sistema estelar duplo. A Gigante Azul e a Anã Vermelha brilhavam apenas para aquele mundo e para sua única lua. Um evento raro no cosmos, Bonamondo mostrava-se um lugar paradisíaco, com cenários bucólicos e natureza deslumbrante, repleta de cores e aromas. Um oásis de diversidade. O planeta abrigava, inclusive, vida autoconsciente de variadas espécies, coisa que os indaris, espécie à qual pertenciam Tessat e Alenni, sequer desconfiavam. Eles reinavam serenos em terra, sobrevoavam em precários balões as amplas planícies que cobriam a maior parte do território conhecido e pescavam em seus vastos rios, porém nunca se aventuravam nos mares. Não sabiam que nos oceanos, nos multicoloridos e resplandecentes oceanos de Bonamondo, a vida fervilhava.

Considerados sagrados e invioláveis desde as mais remotas eras, os oceanos do planeta eram palco de intensas comunicações telepáticas.

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Vocês devem ter estranhado quando mencionei, há pouco, a existência de uma única lua. Afinal, eu havia dito que eram três... Bem, este é o ponto de vista dos indaris, cujo conhecimento científico ainda é incipiente. A verdade é que Bonamondo possui apenas um satélite natural. As outras duas imagens notadas às vezes no céu noturno não eram luas, mas sim naves de observação. Após circundarem as imediações do planeta por alguns séculos, elas finalmente pareciam decididas a abandoná-lo.

Graças a seu temperamento empático e gentil, os indaris construíram uma civilização agrícola pacífica. Sentiam-se felizes em seu cotidiano simples, por esta razão sequer cogitavam buscar novos conhecimentos. Sendo muito antiga sua civilização, seus habitantes adquiriram, ao longo do tempo, grande sabedoria tanto em questões humanitárias quanto no plantio e colheita, base de sua subsistência. Parecia-lhes o bastante. Entretanto, o que às vezes parece sensato, nem sempre é.

Nunca se sabe o que existe além do que nossos sentidos podem captar.

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